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Modelos de atenção e suporte direcionados ao Cuidador informal

A literatura vem demonstrando que a tarefa de cuidar de idosos dependentes pode ocasionar efeitos adversos, gerando impactos negativos e sobrecarga no âmbito físico, psicológico, social e financeiro, devendo ser desenvolvidos programas destinados a prevenir esses efeitos e a trabalhar na busca da qualidade de vida do cuidador. As necessidades das famílias relacionadas ao cuidado ao idoso dependente são, de um modo geral, de orientação sobre como deve ser desenvolvido esse cuidado, como ocorre o tratamento do processo que gera a dependência, além da necessidade de poder compartilhar as dúvidas e outras questões com os profissionais. O sucesso do cuidado ao idoso no domicílio depende de quem irá realizá-lo e o quão preparado estará esse familiar. Cabe ao profissional de saúde avaliar a rede de suporte do idoso antes de conceder-lhe a alta hospitalar, sendo necessário o acompanhamento domiciliar para a avaliação do cuidado e do suporte adequado.

Os cuidados de saúde no país possuem caráter individual e curativo, fragmentado em especialidade e profissionais, gerando a necessidade de uma reorganização dos serviços de saúde para que esses profissionais adotem estratégias de apoio às famílias. No Brasil, apesar da Política Nacional do Idoso (PNI), não há um programa de governo direcionado para o idoso dependente e embora seja apontado pela Constituição Federal, pela Política Nacional do Idoso e pela Política Nacional de Saúde do Idoso que a família é responsável pelo cuidado do idoso em relação ao atendimento de suas necessidades, não há um sistema de apoio às famílias e definição das responsabilidades das instâncias de cuidados formais e informais na prática. O Estado possui reduzidas responsabilidades, inexistindo uma política mais sólida no que se refere aos papéis atribuídos às famílias e uma rede adequada de suporte a ser oferecida ao idoso e a sua família. A maior dificuldade em desenvolver habilidades que possibilitem a formação de cuidadores mais saudáveis reside no fato de que os cursos ainda são muito voltados para os conceitos e teorias vinculados a uma visão biologista. Apesar das discussões acerca da importância de se alterar o paradigma no ensino na área da saúde, muitas estratégias precisam ser desenvolvidas na tentativa de se aprimorar as metodologias e começar a incluir a saúde do cuidador nesse contexto.

Em uma pesquisa em 2003 com cuidadores informais de idosos atendidos por um Programa de Saúde da Família (PSF) em Goiás, os autores destacam a necessidade de se conhecer o perfil dos cuidadores informais para a efetiva implantação de programas que envolvam os idosos e suas famílias. Embora o PSF seja uma boa estratégia para o acompanhamento da família, funcionando como porta de entrada do sistema de saúde, ele depende de capacitação adequada dos profissionais incluídos nesse programa. Pesquisadores em 2002 desenvolveram um programa de apoio aos cuidadores no Centro-Escola da Faculdade de Medicina de Botucatu, São Paulo, com o objetivo de promover ações para a preservação da qualidade de vida dos cuidadores familiares através de reuniões semanais com profissionais diversos. Essa estratégia se mostrou muito positiva, pois a partir do momento em que o cuidador exteriorizava e compartilhava suas experiências, dúvidas, anseios, ele sentia apoio, reforçando a ideia da necessidade de ampliação de programas desse cunho. Em um trabalho realizado em 2000 com um grupo de apoio aos cuidadores do NAI/UnATI/UERJ, no Rio de Janeiro, foram destacados importantes objetivos que devem ser introduzidos nos grupos: fazer com que o familiar aceite a irreversibilidade da doença; favorecer a expressão dos sentimentos; dar apoio emocional e prático; permitir a ajuda mútua e facilitar o envolvimento do cuidador com o idoso dependente.

Apesar de a temática família estar sendo bastante discutida, pouco se tem estudado sobre a relação do cuidador com o profissional de saúde, sendo mais encontrados estudos que abordam como a família se percebe na sua relação de cuidar. Trabalhar em família não se constitui tarefa fácil e exige a análise acurada do contexto socioeconômico e cultural, no qual se insere a família, analisando suas representações perante a sociedade, conhecendo a sua realidade de forma a desvendar o entendimento da família para que o conhecimento se funda à prática, de forma a superar os limites e possibilidades para a concretização das propostas adequadas. Não basta apenas preparar um cuidador técnico, torna-se fundamental estruturar as intervenções junto a esse cuidador, que possam ser consideradas também legítimas, de acordo com os anseios morais existentes e resultantes do sentimento de desamparo que afeta concretamente quem cuida desses idosos, muitas vezes sem o suporte necessário. Diversos trabalhos destacam a importância das discussões e estudos acerca do significado do cuidado, para que se compreenda o cuidar como um processo que “possui uma dimensão essencial e complexa tanto na experiência de quem cuida quanto de quem recebe o cuidado ou até mesmo de quem ensina a cuidar e de quem está aprendendo a cuidar”.

CONCLUSÃO

Este estudo abordou a temática “cuidador de idosos dependentes” no contexto da saúde do país. O perfil do cuidador constitui-se em uma rede autônoma e geralmente desintegrada dos serviços de saúde, carente de orientações e suporte dos profissionais de saúde. Ainda permanece a necessidade de programas funcionantes direcionados ao cuidador apesar de toda a legislação vigente, como a Política Nacional de Saúde do Idoso (1999) e o Estatuto do Idoso. É de grande importância e necessidade a ampliação de ações que tenham o cuidador como sujeito principal, para que essa atividade seja reconhecida e investida em práticas adequadas, trazendo benefícios para quem cuida e quem é cuidado. Cabe ao profissional de saúde que assiste o idoso dependente ter uma visão mais ampla do processo de envelhecer e da importância da rede de suporte familiar que o idoso possui, com atenção aos idosos sem rede também. Vale destacar a necessidade de mudanças na forma de atender a essa parcela da população, no tocante ao objetivo das consultas e das ações de cuidado e orientação. Profissionais especializados na área gerontogeriátrica são fundamentais para essa população que aumenta e altera o perfil de adoecimento do país a cada dia. Estudos e pesquisas são fundamentais para se conhecerem as verdadeiras demandas com o objetivo de formular políticas sociais e econômicas que realmente tenham o idoso como sujeito das ações de saúde.

Fonte: Site da Escola de Enfermagem Anna Nery.

Leia o estudo na íntegra em:  https://www.scielo.br/j/ean/a/VgjTVdg8sHgNWz7gGwDd6dh/

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